segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Futebol "desterritorializado"

Torcida do Ceará Sporting no Castelão: para a CBF, interessa cada vez mais
 que os santos de casa não façam milagres


Parafraseando Caetano, a paixão é senhora; desde que o futebol é futebol é assim. Tentar deslegitimar a paixão de um torcedor cearense por um clube de fora do Estado seria algo xenófobo e obtuso, que não compreenderia o fundamento mesmo do esporte. Nosso problema, portanto, não são os daqui que torcem por times de fora - em geral do Rio de Janeiro que, historicamente, se consolidou como o polo mais carismático do futebol brasileiro (em que pese a presença crescente dos times paulistas no coração dos torcedores de gerações mais novas). Além do que, as maiores paixões esportivas do Estado ainda são as duas principais forças das arquibancadas locais: Ceará e Fortaleza. E, apesar dos reveses em campo e de uma classe dirigente que - com algumas raríssimas exceções - não desembarcou no século XXI, no que diz respeito à dedicação e ao compromisso de alvinegros e tricolores com seus times, vamos muito bem obrigado.

Entretanto, como comentei ontem na edição do caderno de Esportes, nada mais interessante para o negócio do futebol, para os interesses das grandes corporações que regem esse mercado (com a famigerada CBF à frente de todas), do que um esporte “desterritorializado”, alienado de suas raízes, sua história e suas peculiaridades regionais. Sobretudo, num país continental como o Brasil. Por aqui, o “diferente”, o “exótico”, o ponto fora da curva, pode causar prejuízos à banca. Sem falar na necessidade de mostrar que os elefantes nababescos construídos com dinheiro público ficarão pardos pelo menos até a Copa do Mundo – depois da qual todos os paquidermes brancos ficarão como problema para as próximas gerações.

É nisso que certas mentalidades apostam e investem. A presença de times de fora em partidas caça-níqueis em outras praças é apenas uma das estratégias adotadas. Ontem, por exemplo, foi a vez de Fortaleza receber o onipresente Flamengo numa partida do campeonato brasileiro, o que, para muitos, dividiu a torcida entre a xenofobia e a alienação. Volto a dizer: no futebol, a paixão não é algo que se explique, portanto, não é algo que se possa desconstruir. Prefiro pensar que o objetivo da CBF é, justamente, não dividir a torcida. Seu sonho é ter o Brasileirão como um grande torneio Rio-São Paulo. E, para isso, ela trabalha fortemente para os santos de casa não fazerem milagres.

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