sexta-feira, 15 de maio de 2009

Viva o discão!


Já há algum tempo o álbum não é mais a unidade-padrão do comércio fonográfico. O suporte digital reformulou o conceito de disco e são cada vez menos as pessoas que ainda compram suas bolachinhas por aí. Eu, admito, ainda estou entre elas, me sinto meio estrangeiro numa terra de downloads e quejandos. Mas, no geral, a parte (as faixas) vem suplantando o todo (o disco), metonímia que transformou radicalmente as discotecas, que vão se desestruturando e deixando as estantes para migrar para PCs e IPods. Sinal de uma época fragmentada e vertiginosa.
Alguns discos, no entanto, ainda me parecem justificar o formato e superam essa discussão imediatista sobre os rumos da música. Ou melhor, os rumos do mercado fonográfico. Se o disco morreu, esses álbuns seguem bradando: viva o discão! Caetano Veloso e seu ótimo Zii e Ziê (que reposiciona o baiano no centro das discussões sobre tradição e contemporaneidade na MPB); Guinga e Paulo Sérgio Santos (respectivamente, o compositor mais original em atividade no País e um dos maiores clarinetistas do mundo) e o virtuoso Saudades do Cordão; Ana Costa e seu Novos Alvos (um dos melhores discos de samba do ano); e Nelson Freire e o colossal tributo a Debussy são exemplos recentes desses artistas (com seus respectivos álbuns) que, mesmo em gêneros distintos, têm feito a experiência de audição de todo um CD valer a pena.
São trabalhos orgânicos, inteiros, coesos, que escrevem um texto que só pode ser lido a contento do início ao fim. A parte aqui não explica o todo. Fragmentados numa discoteca virtual faixa a faixa, esses discos perderiam muito de sua riqueza.
Viva o discão!


Um comentário:

Abre Catam disse...

Rapaz, esse disco do Nelson Freire é uma das coisas mais lindas que já ouvi. A adoração que ele tem pelo Debussy transpira para o CD. Ótimo!