quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

1984: Mangueira desfila ao contrário

Aos que gostam de carnaval, um dos momentos mais bonitos da história da Sapucaí. Em 1984, no primeiro ano do sambódromo, Mangueira e Portela, respectivamente campeãs dos desfiles de segunda e domingo de carnaval (o regulamento da época previa duas campeãs), disputavam a final do supercampeonato, marcada para o sábado de cinzas. Última a se apresentar, a Mangueira empolgou de tal forma o público que, ao fim do desfile, deu meia volta e começou a desfilar ao contrário. Êxtase total no público, que acompanhou a escola até o fim, ou melhor, até o início da avenida. A verde-e-rosa acabou levando o supercampeonato, único da história do carnaval carioca.

domingo, 25 de janeiro de 2009

"Deixa de ser rei só na folia"

Em sua coluna de hoje no jornal O Globo, Ancelmo Gois, pergunta a algumas celebridades que música, livro ou filme elas dariam de presente para o novo presidente norte-americano Barack Obama. Zeca Pagodinho fez a melhor escolha, daria de presente a música "Dia de graça", do Candeia, que termina com os seguintes versos: " Negro, não se humilhe nem humilhe ninguém / Todas as raças já foram escravas também / E deixa de ser rei só na folia e faça de sua Maria rainha todos os dias / E cante o samba na universidade / E verás que seu filho será príncipe de verdade / Aí, então, jamais tu voltarás ao barracão". Abaixo, um vídeo com Teresa Cristina e João Cavalcanti, do Casuarina, interpretando a música. 



Bom senso do dia


"A causa da crise não está nem no mercado trabalhista nem no estado do bem-estar social".
José Luiz Zapatero, presidente do governo espanhol, ao comentar as seguidas propostas de "flexibilização" dos direitos trabalhistas feitas por empresários ao redor do mundo como tábua de salvação para a crise econômica mundial. Nem o emprego nem as políticas sociais devem pagar pela crise, segundo o mandatário espanhol. 

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Jazz, música da felicidade

Há alguns tópicos, eu falava de um ensaio escrito por Francisco Bosco em que ele discutia a noção de felicidade na música. E defendia como uma música feliz não é necessariamente uma música de ritmo acelerado e/ou vibrante, mas uma música bem realizada, que atualiza de maneira plena sua potência. Assim, Milton nascimento soa caricaturalmente triste quando se propõe a cantar o que o senso comum consideraria algo "alegre"; mas soa profundamente alegre, pleno, justamente quando realiza aquilo que sabe fazer melhor, as supostas músicas "tristes".
Essa noção foi - e continua sendo - muito útil para minha trajetória como ouvinte de jazz. Mais do que uma música afetada, chata, escrita para eleitos, o jazz sempre um terreno da felicidade, aquela felicidade da plena realização de que nos fala Bosco. Ao contrário do chorinho e do samba - que me parecem felizes porque lidam de maneira exuberante com um lastro primordial de tristeza que perpassa as partituras e as letras de um e de outro -, o jazz me parece essencialmente alegre, posto que livre. E que alegria maior poderia para um músico do que embalar sua rigorosa (sim, o jazz é rigoroso!) formação técnica com o ar da liberdade, da criatividade permanente. 
É fato que, quando o assunto é jazz, há interlocutores insuportáveis, que lidam com a música como uma propriedade intelectual intransferível e costumam vomitar fastio e empáfia sobre a história do gênero. O que esses "jazzeiros" - parentes próximos dos "sambeiros" - não sabem é que o ouvinte de jazz pode ser o mais "desinformado" dos mortais; basta se deixar levar pela intensa alegria que move cordas, sopros e baquetas do gênero - que justamente por isso, é um dos mais democráticos. 
O problema é que nosso ouvido já se encheu de tanta música ruim e, pior, autoritária, que, ao se defrontar com a liberdade do jazz - ou com a exuberância do chorinho, da chamada "música erudita" ou de qualquer outra expressão instrumental -, fica meio intimidado. 
Abaixo, um vídeo que me parece bem sintomático do que proponho aqui. Trata-se do quinteto de Benny Goodman. O mitológico Lionel Hampton participa do vídeo tocando vibrafone. Atentem também para a performance do baterista (alguém me ajuda com o nome dele? Seria o também mitológico Gene Krupa?). Poucas coisas poderiam soar mais livres e, por isso mesmo, felizes.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A professora que quer "matar" Aleijadinho


2009 começa com uma ótima polêmica. Guiomar de Grammont, uma professora de Filosofia da Universidade Federal de Ouro Preto, acaba de lançar um livro onde questiona aspectos da biografia de Aleijadinho (1730-1814) e defende que o escultor, artífice do barroco brasileiro, não foi um, mas vários. O volume chama-se O aleijadinho e o aeroplano e saiu pela Civilização Brasileira. Segundo Grammont, não só os métodos de análise que atribuem a autoria de inúmeras obras a Antônio Francisco Lisboa, o nome por trás do apelido do escultor, estão equivocados; mas também as provas documentais a respeito do artista são insuficientes para atestar a autenticidade de qualquer uma de suas obras.

A imprensa mineira reagiu aos chutes e pontapés ao "sacrilégio" da professora. "Ela quer matar Aleijadinho", por exemplo, foi uma das manchetes estampadas num jornal de Belo Horizonte. E mais bordoadas devem vir adiante. Afinal, como lembra o jornalista Antonio Gonçalves FIlho, em matéria publicada no Estado de São Paulo do último domingo, o protótipo do brasileiro mestiço, doente, que supera suas limitações para mostrar ao mundo sua genialidade sempre serviu aos governos e à construção da chamada identidade nacional, particularmente depois do golpe de 1937. Tanto que o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), criado poucas semanas depois do golpe, não mediu esforços na busca por documentos relacionados à figura de Aleijadinho. Entre eles, a primeira biografia oficial, escrita por Rodrigo José Ferreira Bretas.

Segundo Grammont, a biografia incorporou dados e episódios da vida de Michelangelo contada por Vasari como se pertencessem à Aleijadinho e, com isso, fez do artista de Villa Rica uma invenção romântica e nacionalista de Bretas, assimilada e estimulada por pesquisadores e governos da poesteridade. Além disso, de acordo com a professora, o escultor teria de viver umas dez vidas para esculpir todas as obras a ele atribuídas.
Na foto acima, Caminho para o Calvário, obra atribuída a Aleijadinho.