terça-feira, 13 de março de 2012

Inside Job: por dentro do maior crime financeiro da história


Inside Job - ou Trabalho Interno, na tradução para o português -, de Charles Ferguson, é um filme ao mesmo tempo didático e devastador. Didático porque pega seu espectador pela mão e vai explicando, com riqueza de detalhes e uma clareza constrangedora para a grande imprensa que "cobriu" o crash de 2008, quem foram os protagonistas e as artimanhas usadas no maior crime financeiro da história. Devastador porque expõe o quanto estamos reféns da mentalidade conservadora e despudorada que comanda os grandes organismos financeiros internacionais - e que estende seus tentáculos não apenas no campo da política (comprando parlamentares e financiando campanhas no executivo), mas também na área acadêmica, moldando corações e mentes dos novos economistas em instituições "consagradas" como Harvard e Columbia.
Engana-se quem acha que o debate está apenas na bandeira da desregulamentação econômica - defendida a ferro e fogo (e gorjetas milionárias) por economistas, parlamentares reacionários (e também por certos  "progressistas"), grandes conglomerados de imprensa e quejandos. A falta de punição aos criminosos engravatados, a recorrência de seus nomes no staff do governo Obama (no caso específico dos Estados Unidos), a permanência das bonificações extravagantes para os agentes da débâcle securitária e, principalmente, a alucinação consumista e ostentatória em que essas lideranças financeiras estão mergulhadas tornam a perspectiva para a economia global ainda mais dramática.
Um filme absolutamente essencial para entender nossa época e tentar projetar nosso futuro.

domingo, 11 de março de 2012

Ted Curson

Poemetes araújos XVIII

Miguel Rondón - Aqui e agora (2010)

Carrego certo
orgulho de meus
erros.
Aqueles que me põem
em perspectiva, os que sabem
bem de mim;
e por mim optaram.
Descaminhos, encruzilhadas,
decepções: propostos ao tempo.
Trago-os sempre
no alforje outrora
rouco de
minha garganta.

Carrego certos erros
de meu orgulho.
Aqueles que não me
inteiram, me duvidam,
me incompletam.
Há, porém, inegável hipocrisia e
almas pequenas
a cortejar nossa travessia.
Mas preferi seguir: experiência.
Em que pese.
Resisto não
mais
às imprecisões do instante.
Este oceano inteiro
que me navega.
Esse oco da palavra,
vagando entre silêncios.

Nem menos nem mais
do que eu, meço a grandeza
do agora.
Há, por demais,
o vivido e o por viver
embotando o nosso sorriso:
quero o aqui e agora.
Meus erros também - aqui e agora.

Sento-me à mesa e
faço os brindes devidos.

Sobre times e clubes


No futebol, há dois tipos de gestão: de time e de clube. A primeira, ligada às questões mais comezinhas do dia a dia, indo apenas “da mão pra boca” e raramente divisando algum horizonte além das demandas prementes das quatro linhas. A segunda, mais consistente e complexa, lida com projetos de longo prazo, voltados ao fortalecimento institucional dessas “empresas” esportivas.
No futebol cearense, esse secular fracasso administrativo (mas pelo qual, ressalto, sou apaixonado), sempre imperou a lógica da gestão de time. Ou seja, veja-se quem há para colocar em campo, fé em Deus e pé na tábua. Esse modelo, alimentado pela paixão dos torcedores (e pela ingenuidade dela decorrente de modo inexorável), fez a glória de inúmeros demagogos e oportunistas de plantão (certos radialistas e profissionais de imprensa, alguns líderes de torcida organizada, dirigentes corruptos, políticos, etc).
Apenas de uns anos pra cá, nossos principais clubes dão sinais de que estão dispostos a traçar caminhos mais consistentes em termos de planejamento e gestão. O Ceará, sob a batuta de Evandro Leitão, renasceu das cinzas. O jovem presidente organizou a casa alvinegra, saneou suas dívidas, retomou o prestígio nacional do clube e vem semeando ações de longo prazo. O Fortaleza não quis ficar pra trás e ensaia voos semelhantes, incluindo a perspectiva de um centro de treinamento moderno e bem estruturado na Região Metropolitana e uma forte campanha de marketing em torno do sócio-torcedor.
Outro dia um interlocutor me fez a provocação: em nosso futebol, o que se chama de “boa estrutura” é pagamento em dia. Não deixa de ser uma incômoda verdade. Entre alvinegros e tricolores, tudo ainda é muito incipiente no terreno da gestão de clube. E contentar-se com o que está posto é denunciar nosso complexo de vira-latas. Mas é importante saudar - até para que não voltemos mais uma vez à estaca zero - o que vem sendo feito. O que nos separa dos grandes clubes do País é a continuidade dessa opção.
Clubes com uma gestão fortalecida produzirão times mais qualificados - nunca o contrário. Mesmo porque futebol é jogo, e um jogo onde, mais do que todos os outros esportes, sempre se pode contar com o imponderável. Times perdem e ganham, sobem e descem de divisão. É do jogo. Já os clubes, não. Aqueles bem estruturados ganham sempre - independente do resultado dentro de campo.

Publicado na seção de Opinião do jornal O POVO, edição de sexta-feira, 09.03.2012